Não há volta a dar. Por muito que tentes há sempre dias não. Dias em que a energia vai abaixo e em que parece que nada faz sentido. Por oposição, existem tantos outros em que estamos tão bem que transbordamos e tudo nos parecem oportunidades e possibilidades.
Esta constatação pode parecer estranha num blog que fala de felicidade, mas o que tenho aprendido é que o conceito "massificado" de felicidade, para além de muito redutor, nos causa uma ansiedade dispensável.
E, sejamos sinceros, esta ideia é bastante conveniente numa sociedade dominada pelo capitalismo e consumismo. Estás triste? Bebe esta cerveja para te animar. Sentes-te deprimido? É porque precisas de renovar o guarda-roupa ASAP.
Sei disso porque até há bem pouco tempo tinha essa noção de felicidade.
Quando comecei o blog pensava que ser mais feliz era eliminar ao máximo os momentos e sentimentos menos bons. Mas por muita terapia que fizesse, muitas horas que meditasse, muitos cadernos da gratidão que escrevesse ou frases motivadoras que enchesse no espelho do quarto, o meu estado sombrio e melancólico reaparecia. E eu não queria aceitar que ele fazia parte de mim.
Tive de bater algumas vezes com a cabeça na parede para encaixar que, ser feliz não passa por eliminar, ignorar ou afastar seja o que for. Ser feliz é ter cada vez mais consciência de que vivemos entre estados, aceitá-los e integrá-los da melhor maneira para, a partir daí, vivermos com mais plenitude e paz.
Esta mudança de conceito pode ser assustadora. Confesso que me senti desolada durante dias. Então, a história que me tinham vendido não ia acontecer? Aquele sentimento de permanente bem-estar era humanamente impossível?
Mas depois da tempestade vem a bonança. Ampliar a nossa noção de felicidade pode doer mas, a partir daí, transforma-se numa enorme liberdade.
Poder estar triste. Abraçar as questões existenciais. Chorar. Ter raiva. Ficar desperançado. E saber que está tudo bem. Que também isso é felicidade.
Photo by Pablo Varela on Unsplash
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