E se não existir isto de ser mais feliz?

Dei por mim assaltada por este pensamento: e se isto da felicidade for uma manobra de diversão? E se não existir mais felicidade além da que estou a vivenciar neste momento? 

Há tanto tempo que escrevo sobre como ter uma vida mais feliz, dicas para promover a auto-estima, formas de estar mais presente no dia-a-dia e maneiras de ser a melhor versão de si mesma... mas no meio de tanta escrita, confesso: nunca equacionei a possibilidade de que não existe felicidade alguma a almejar, que ela não pode ser superior à que estou a viver hoje (e acreditem, escrevo isto num momento delicado da minha vida, por isso, não estou anestesiada por alegria ou êxtase).

Trazer questões como esta à minha consciência tem sido, simultaneamente, assustador e libertador.

Assustador porque se não existir felicidade a alcançar, a maioria dos meus objetivos deixam de fazer sentido. Libertador porque se a felicidade está aqui, não preciso de ir a lado algum, basta-me usufruir dela.

A verdade é que grande parte do meu tempo tem sido dedicado a auto-desenvolver-me e a procurar ter uma vida mais genuína e verdadeira. Tudo isto, com o propósito de ser (ainda!) mais feliz. Mas talvez este caminho não tenha nada a haver com felicidade. Pelo menos directamente. O crescimento pessoal, talvez até permita viver a felicidade de forma mais intensa, mas ela é sempre a mesma. Ontem, hoje e amanhã. 

E isto faz-me questionar se, procurar pela felicidade, não se tornou num dos mais cobiçados objetos de consumo de sempre.

Falo por mim. Parece que estou sempre à procura dessa felicidade, e sinto que ela está quase sempre ao meu alcance. Consegue ser bizarro, querer algo que parece estar sempre ali - simultaneamente acessível e utópica. E muitas vezes, sinto o sabor dela nos meus lábios por breves instantes, mas, como há sempre algo mais a fazer, ela é logo projetada para o futuro. E lá vou eu à procura de ser mais feliz. E a felicidade, que não é mais do que uma realidade presente, transforma-se numa felicidade futura, que é sempre maior e melhor do que a de agora.

E se não existir mais felicidade do que a que existe agora? E se vivemos na ilusão de que a felicidade é algo que se constrói, que cresce? E se isso nos impede de, neste momento, estarmos a aproveitar cada segundo dela? Se assim for, então amanhã provavelmente acordaremos com uma nostalgia enorme. A nostalgia de quem teve a felicidade sempre ali, inteira e disponível mas, que acreditou que ela era outra coisa. E por achar isso, sempre a viveu pela metade.

Talvez nos falte a coragem de ver e viver a felicidade como ela é. Porque isso obriga a que desistamos de muito dos ideais da nossa mente. Isso traz realidade e humanidade à felicidade. E aceitar que a felicidade de hoje é tudo o que existe, é menos glamoroso do que sonhar com algo permanentemente mais grandioso. 

No fim de contas, talvez o que nos falta mesmo, é a coragem de sermos inteiramente felizes. Não amanhã. Hoje. Aqui. Agora.

Photo by Yoann Boyer on Unsplash

Comentários

  1. Sofia,

    Gostei do deu post.
    A felicidade é sem dúvida é um dos itens mais cobiçados da atualidade. Mas será que o que denominamos felicidade é ela realmente?

    Fiz um post há algum tempo sobre esse assunto, se quiser ver:
    https://simplicidadeeharmonia.blogspot.com.br/2018/01/felicidade-existe.html

    Boa semana,

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