Como lidar com uma crise existencial

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A crise existencial pode ser definida como uma fase em que a pessoa questiona a sua existência e o seu propósito de vida. Como é algo que tem vindo à minha cabeça de forma recorrente, resolvi pesquisar um pouco para entender melhor o que é esta crise e de que forma a podemos ultrapassar da melhor maneira.

Antes de mais, importa ressalvar que as crises existenciais não são problemas de alguns, mas sim uma condição que faz parte de se ser humano. Neste sentido, não há como evitar passar por este questionamento, mas sim aprender a encará-lo da forma mais natural e positiva possível.

Partindo da consciência de que é algo humano, a crise existencial deve ser encarada como uma fase integrante da vida. E muito embora passar por ela nos faça sentir emoções desconfortáveis, como o desalento, a ansiedade ou a apatia, alterar a nossa perspectiva em relação a ela, pode ajudar muito.

Fazendo uma analogia simplista mas que acho que funciona muito bem: é o equivalente a limparmos a casa. O trabalho em si não é agradável, provoca-nos cansaço, mas o output é positivo: uma casa limpa, onde nos sentimos melhor. De forma semelhante, a crise existencial serve para confrontarmos o estado actual das coisas e, ao causar-nos emoções negativas, impele-nos a agir e mudar. A crise existencial pode ser catalisador de transformação, se assim o permitirmos.

Mas, como podemos, na prática, lidar com uma crise existencial?

#1 Ter consciência - como referi anteriormente, o primeiro ponto a reter é que a crise existencial não é algo exclusivo de alguns, mas sim uma fase pela qual todos passamos. Ela tem tendência para acontecer em marcos cronológicos (30, 40, 50 anos) ou no decorrer de eventos que nos desestruturam (um trabalho que não se gosta, um relacionamento que não funciona). É difícil lidar com uma crise existencial que coloca em causa o porquê de estarmos a ser quem somos e a fazer o que fazemos. Por outro lado, questionar a existência é um privilégio humano que que nos diferencia dos restantes seres vivos - é a consciência do self.

Por isso, se questionas o teu propósito de vida, e sobretudo se o fazes de uma forma mais filosófica, considera-te uma sortuda: significa que as tuas necessidades básicas estão satisfeitas e que te podes debruçar em questões de nível superior, como a realização pessoal.

#2 Back to the basics - passar por uma crise existencial não é fácil. Há dias em que as questões são tantas que consegue ser agoniante. Podemos dar por nós a acordar amorfas, sem sentir alegria de viver. No meio destes momentos, e depois de acalmarmos o nosso lado racional, tomando consciência e de colocando as coisas em perspectiva, é altura de cuidar do nosso lado emocional. Porque muitas vezes entendemos as coisas com a mente, mas não o sentimos. E conseguir uma coerência entre racional e emocional é essencial para seguir em frente.

Assim, a minha sugestão é que voltes ao básico. E não, não me refiro ao ensino básico. Mas sim, aquilo que é mais essencial na tua vida. Evita os pensamentos filosóficos e foca a atenção nas coisas mais simples, como a família ou a natureza. Aquelas coisas a que te podes agarrar, quando mais nada faz sentido. Vive-as intensamente. Visita mais vezes quem gostas, faz longos passeios em sítios que adoras. Isto vai ajudar-te a ter um sentimento de pertença com o mundo e, consequentemente, diminuirá o teu sentimento de desenraizamento.


#3 Reencontrando o propósito - a crise existencial está intimamente ligada à falta de sentido na vida. É quando as tuas expectativas chocam com a realidade e não encontras um match entre ambas. E isso causa-nos frustração. Seguem algumas dicas para te ajudar a enfrentar e dar a volta por cima desta crise:

»» Relativiza e aligeira a perspetiva -
calma, respira fundo. Nós, mulheres, temos uma tendência para o drama. Mas lembra-te que não precisas de levar tudo tão a sério. Diverte-te mais. Encara a vida como um jogo onde, às vezes, lanças o dado e avanças casas e outras recuas. Mas só o ato de jogar é divertido, certo? Por isso, relaxa, lança os dados e lida com o resultado com mais leveza.

»» Assume responsabilidade pela realidade - não és um agente passivo ou vítima da tua situação actual. Afinal, és tu quem lança os dados e interpretas o resultado. 
Nós, seres humanos, temos uma grande dificuldade em assumir responsabilidades: seja assumir um erro no trabalho, criar um compromisso com alguém ou investir num projeto a longo prazo. Se já nos é difícil fazê-lo com questões mais práticas, ainda o é mais com a nossa própria vida como um todo. É mais confortável culpar Deus, o destino ou a má sorte, do que questionar o que estamos a ser e fazer para materializarmos a nossa realidade.

»» Questiona as expectativas - como disse anteriormente, esta crise é motivada pelo choque entre expectativas vs. realidade. Muitas vezes damos por nós, por exemplo, a perceber que ainda não conseguimos atingir um objectivo que desejamos desde sempre. Mas questiona-te: as expectativas que tens em relação à vida são tuas ou dos outros? E se são tuas, ainda são todas válidas hoje? Muitas vezes crescemos com objectivos na nossa mente e não os questionamos com o tempo. Mas nós somos seres dinâmicos e não estáticos. E está tudo bem em mudar de opinião, objectivos, vontades. Aliás, é natural que assim seja.

»» Compreende o teu poder de mudança - tendo a consciência do teu lado, sabendo a responsabilidade que tens sobre a realidade e começando a questionar as tuas próprias expectativas (que é o que causa o desfasamento com essa mesma realidade), entendes o poder de mudança que tens dentro de ti. Voltando à analogia com o jogo, podes lançar os dados e ir tomando decisões de acordo com os resultados que vais obtendo. E mesmo que não sejam os que estejas à espera, que tenhas de recuar casas, podes sempre aprender algo de bom com isso. SEMPRE. Nesse caso, mesmo que não possas alterar o resultado, podes modificar a tua percepção sobre o mesmo.


Uma crise existencial pode dar uma sensação de que o sentido das coisas se perdeu e que voltámos à casa de partida na vida. E pior. Sentimos que não vale a pena lançar os dados ou seguir em frente. Mas mais uma vez, é uma questão de consciência e perspectiva. As crises existenciais podem ser pontos de viragem maravilhosos na tua vida, se te focares naquilo que elas trazem. Elas fazem-te questionar o que precisa de ser questionado. Elas propõe-te uma transformação. 

Por isso, aqui fica a minha sugestão feliz: aceita a naturalidade das crises existenciais e percepciona-as como uma oportunidade para crescer.

E tu, como lidas com as tuas crises existenciais? Tens dicas que queiras partilhar? Ia adorar saber :-)

Photo by Marco Secchi on Unsplash

Comentários

  1. Gostei muito deste tema. Muitas vezes dizemos "estou com uma crise existencial", e não é que às vezes estamos mesmo? Custa encarar com leveza quando estamos cheios de dúvidas, mas as tuas dicas são muito boas para encarar a questão de forma direta e simples. O problema às vezes é mesmo a simplicidade da coisa, contra mim falo eheh!

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    1. Obrigada pelo teu comentário. Acredita que também é um desafio para mim. Mas é um exercício que tenho conseguido implementar recentemente. Não hiperventilar, relativizar e tentar adicionar alguma leveza à coisa. E, pelo menos para mim, tem funcionado muito bem :)
      Beijinhos

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  2. "Por isso, se questionas o teu propósito de vida, e sobretudo se o fazes de uma forma mais filosófica, considera-te uma sortuda: significa que as tuas necessidades básicas estão satisfeitas e que te podes debruçar em questões de nível superior, como a realização pessoal".

    Nossa, Sofia... nunca tinha pensado por esse lado... achei muito interessante e a partir disso podemos até olhar nossas crises com uma certa gratidão... Obrigada por este post! <3

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    1. oh minha linda! sabes que tudo o que escrevo, são recados também para mim (ahahah). Escrever este post me trouxe divresos insights e esse foi um deles.
      Obrigada por tudo... beijinhos!

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  3. Olá Sofia, mais um tema que me diz tanto :)
    Vejo-me bem em certas situações que aqui falas. É tão bom ler-te :)
    Beijinhos grandes

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    1. Olá Sandrinha, como estás?
      Acho que todas nós, de uma forma ou de outra, nos sentimos identificadas com este tópico.
      Sempre bom ter-te por aqui.
      Beijinhos!

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